
Foi um 9 de fevereiro especial. Não apenas pelas comemorações do Dia do Frevo. A noite desta segunda-feira pré-carnavalesca se encerrou com muita alegria num encontro especial de dez nações de maracatu e em uma bela homenagem em memória do Pai Edu, babalorixá do Palácio de Iemanjá falecido em 2011. A Noite para os Tambores Silenciosos reuniu olindenses e turistas, que saíram em cortejo dos Quatro Cantos ao Largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde no passado os negros tinham liberdade religiosa.
A noite teve início, às 18h, no Palácio de Iemanjá, que abriu as portas ao público e recebeu ainda o Maracatu Nação Maracabalde Estrela Vermelha, formado por garotos de sete a 14 anos do bairro dos Coelhos, no Recife. O grande diferencial do grupo está no aproveitamento de baldes de plástico e latas para a formação do som, além, é claro, do talento e desenvoltura dos pequenos e do mestre mirim Otávio, 13 anos. “É a primeira vez que tocamos em Olinda. Já ouvi falar da Noite para os Tambores Silenciosos e estou ansioso para participar”, comentou.
Depois da apresentação, houve uma louvação com canto e dança para os orixás, pedindo a proteção a todos. A mãe Yakekerê e filha do homenageado Pai Edu, Juliana Barbosa, comentou o momento da homenagem. “Não só eu como todos aqui estamos muito felizes por manter a casa ativa e a tradição”, disse. Juliana recebeu o prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, que acompanhou a cerimônia ao lado do secretário de Patrimônio e Cultura, Lucilo Varejão, e do secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Maurício Galvão. “Pai Edu foi uma figura humana muito importante para a cultura afro e para Olinda. É uma justa homenagem nessa festa magnífica que conferimos hoje”, afirma Varejão.
Quem também acompanhou a cerimônia no Palácio de Iemanjá com um olhar atento foi o pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Nei Rocha. O carioca ficou impressionado ao perceber que se trata de uma tradição repassada por gerações. “Esse legado cultural jorra naturalmente nas crianças. Algo que também me fascina é esse sincretismo religioso dos orixás com a Igreja Católica e essa tênue divisão de território entre o sacro e o profano, tão interligados. É uma das expressões mais genuínas que já vi”, refletiu após a visita ao Palácio enquanto observava o cortejo de maracatus nos Quatro Cantos.
Outro que veio de longe foi o também professor universitário Daniel Gaio. Morador de Belo Horizonte, já viveu em Pernambuco há alguns anos e agora volta para passar a semana pré e o Carnaval, ao lado dos amigos. “Vim há muitos anos, mas quase não lembrava. Achei muito interessante essa ideia do encontro nos Quatro Cantos e do cortejo”, expressou pouco antes de seguir em direção à Igreja do Rosário.